quarta-feira, 8 de junho de 2011

Reflexões I

                                       Josué e Armindo



“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida.”
                                                     Vinícius de Moraes

   O Teatro é a arte do encontro.
   De todas as artes é a que mais necessita que aconteça um encontro: o corpo-presente dos atores diante do público privilegia uma troca de humanidade permanente.
   Ademais, só acontece naquele tempo-espaço determinado, por isso é uma arte efêmera, sobrevivendo apenas no sentimento e na memória.
   Em Feira de Santana-BA tivemos uma experiência marcante – um reencontro.
   Armindo e Josué: motorista e ajudante, amigos de longa data.
   Josué trabalhava na padaria do pai de Armindo em Salvador, eles não se viam a 15 anos.
    O reencontro se deu de forma inusitada – Armindo nada conhecia em Feira de Santana, nenhuma rua, nenhuma esquina. Por acaso encontra Josué, lavando carro e dormindo na rua. Josué era o guia perfeito, ele mesmo dizia: “Conheço Feira de Santana do chifre ao rabo!” e conhecia mesmo.
    Era muito interessante observar a relação dos dois – sentados no banco da van, em silêncio, Josué só ensinava os caminhos: “direita, esquerda, segue em frente...”
   Josué nunca tinha visto uma peça de teatro em sua vida.
   Ele e Armindo foram por nós convidados.
   No dia do espetáculo Josué estava mudado: barba feita, roupa nova – um homem novo!
   Depois da apresentação, Josué, de forma muito peculiar, disse assim: “What is your name? My name is Joshua...” e seguiu: “Tô brincando, não falo inglês não, mas sei ler e escrever.” Achei aquilo tão sincero, tão íntimo, que logo estávamos conversando sobre vários assuntos. Então ele me disse o seguinte: “André, a peça me fez sentir alegre, nunca havia assistido a uma peça de teatro vou assistir todos os espetáculos que puder, vocês nunca mais sairão de minha memória.”
   Estava cumprido o nosso objetivo.

                                   ANDRÉ MARCOS